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Deltan Dallagnol

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Justiça, política e fé

Sanções à vista

O porta-aviões de Trump está chegando ao Lago Paranoá

Presidente dos EUA, Donald Trump. (Foto: EFE/EPA/BONNIE CASH)

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“Eles podem entrar com ações judiciais, podem fazer o Trump falar. Se mandarem um porta-aviões, aí veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, não vai influenciar na decisão aqui no Brasil", disse o ministro Alexandre de Moraes, deslumbrado com seu poder, à revista The New Yorker, a publicação queridinha da elite costeira progressista dos Estados Unidos.

Mas parece que aquilo de que o ministro desdenhou publicamente, em uma das revistas de maior prestígio e influência da mídia americana, está prestes a se tornar realidade: nesta terça-feira (21), durante uma audiência na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o secretário de Estado de Trump, Marco Rubio, confirmou que sanções contra Moraes estão atualmente em revisão pelo Departamento de Estado — e que as chances de uma punição são altas.

Foi a primeira vez que a Casa Branca se manifestou expressamente sobre o caso, evidenciando que as possíveis punições internacionais contra Moraes e o STF não eram “teoria da conspiração da extrema-direita”, conversa de bar ou delírios da família Bolsonaro. Não: a avaliação de sanções contra Moraes está inserida num contexto em que a direita brasileira tem se articulado, de forma organizada e eficaz, para buscar punições no exterior pelas violações de direitos humanos protagonizadas pelo STF no Brasil.

Ao mesmo tempo, o governo Trump deseja cumprir sua promessa de campanha de combater a censura global — e Alexandre de Moraes é o alvo ideal, por seus próprios méritos, ou melhor, deméritos: o ministro ganhou fama mundial pelo banimento do X (antigo Twitter) no Brasil por dois meses, pela briga pública com Elon Musk — hoje um dos principais conselheiros de Trump e membro da Casa Branca —, pela suspensão da Rumble e por dezenas de outros casos de censura ilegal contra os desafetos do próprio Moraes e do tribunal. Não há exemplo melhor de autoridade estrangeira a ser punida por tentar censurar cidadãos e empresas americanas.

Mas a bomba não vai explodir apenas no colo de Moraes: além de o governo americano avaliar punir quem colaborou com o regime de censura do ministro — como agentes da Polícia Federal (PF) que o auxiliam, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e outros ministros do STF que respaldam suas decisões, como Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Flávio Dino —, o portal Metrópoles revelou hoje que as esposas dos ministros também estão na mira do governo Trump, que já mapeou os escritórios de advocacia de que elas fazem parte.

A avaliação do governo americano é simples: punir Moraes ou outros ministros com a pena de morte financeira da Lei Magnitsky — que inclui congelamento de bens, bloqueio de contas bancárias e cancelamento de cartões de crédito — pode não ser suficiente, já que bastaria aos ministros passarem a utilizar as contas e cartões de suas esposas ou outros parentes. O governo americano também sabe que boa parte da renda dos ministros vem dos escritórios de suas esposas, contratados por empresas ansiosas por proximidade com a corte para resolver suas disputas bilionárias.

A advogada Roberta Rangel, esposa de Toffoli, advogou para a JBS, dos bilionários e corruptos confessos irmãos Batista; Viviane Barci, esposa de Moraes, é advogada do Banco Master, envolvido em uma suspeita venda para o Banco de Brasília; Guiomar Feitosa, esposa de Gilmar Mendes, é sócia do Sérgio Bermudes, um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, famoso por sua atuação em Direito Civil. Quem quiser chutar quanto as esposas dos ministros recebem em honorários e bônus pode ficar à vontade nos comentários. Dica: é bem mais do que os R$ 45 mil de salário que os ministros ganham.

Se as esposas dos ministros e seus escritórios também forem sancionados, o inferno estará instalado nos lares dos nossos supremos. Conseguem imaginar o impacto na dinâmica familiar e íntima dos casais, com ambos sancionados pelo governo americano, impedidos de ter contas, cartões de crédito, com vistos cassados e proibidos de entrar nos Estados Unidos? Sem falar no carimbo de párias internacionais e violadores de direitos humanos, que os afastará da elite internacional com quem tanto gostam de circular. Será um verdadeiro barata voa.

Isso sem contar o espanta-cliente geral: milionários e bilionários cujas empresas estão listadas na bolsa americana ou mantêm relações comerciais com os EUA terão de seguir a legislação americana. Qual deles vai querer ser representado por um escritório sancionado pelo governo dos Estados Unidos? É… o porta-aviões de Trump está chegando ao Lago Paranoá. Mas os ministros e suas esposas não precisam se preocupar: calma, ministros! Se Trump sancionar todos vocês, a solução é bem simples — é só recorrer.

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